El-Rei Trevo do Mar no seu palacete no Escondinho
Pega no telegrafo móvel e liga à esposa que sai da Fundição lá para as sete ou oito da tarde.
Nandinha? – sim, responde uma voz do outro lado.
Mas que horas são? Pergunta-lhe a esposa – tardíssimo querida, responde o Trevo - já são 5 da tarde e tou esfalfado, o Porreirinha tá de férias e hoje tive de ser eu todo o dia a aturar a plebe, a burguesia e os sanguessugas do costume, para além da incompetência e do esbanjamento dos serviçais.
Amado esposo, diz a rainha, já tomaste os pingos hoje? Então não sabes que eu trabalho até às sete oito da noite e não tenho aqui a criadagem que tens aí na corte. Mas que escapadinha? Por acaso já cortaste a relva do jardim, já aspiraste o fundo da piscina e já deste de comer aos cães?
Querida dá-me ao menos só este fim-se-semana de descanso prometo que te compro uma jóia se não me obrigares a cortar a relva.
Qual jóia qual carapuça - responde irritada a esposa - queres-te é desenfiar, verga a mola e faz o que te compete, quem te deu essa casinha também se amargurou a trabalhar.
Mas amorzinho - insiste o Trevo já a desanimado - a Insónia anda-me a dar cabo dos nervos com a ajuda do Boticário e o Pedro Carioca foi descobrir-nos a careca toda, sobre o que tínhamos planeado para dominarmos a concelhia, esta juventude não presta filha, é uma geração rasca mesmo. Então não foi já descobrir que tinhamos 25 fiéis para derrotarmos os outros 21? Que merda pá - depois não se aconselham comigo, todos querem é protagonismo nos jornais e teimam em acabar-me com a vida, parecem abutres à espera que eu morra.
Amado esposo ganha calma, vai lá fazer mas é as tarefas que te estão destinadas, que o trabalho distrai-te. Não te esqueças dos pingos e põe o chapéu na cabecinha olha que o sol faz-te mal à moleirinha.
(continua)