Wednesday, September 20, 2006

O CÉU PODE ESPERAR [2]

JE (José Ervas) e ZP (Zeca Pinhoada), voltam a encontrar-se no Céu para mais uns dedos de conversa.

JE: Pá ainda bem que fumas e de vez em quando tens de te levantar cedo para comprar os teus charutos e cigarrilhas, ao menos assim conversamos um bocado, infelizmente as minhas artroses já não me permitem dar umas cavalgadas pela charneca e tocar a minha pianola está fora de questão, os anjos-da-guarda cá do Céu não querem cá barulho e só gostam de Mozart e Beethoven, mas em concertos organizados para todo o colectivo.
ZP: Tem razão doutor mas já convenci o Dr. Hermético Pachorra a vir aqui ter connosco ele deve estar a aparecer por aí.
JE: Palavra? Conseguiste convencer o Pachorra a vir aqui falar com a malta?

ZP: Claro e com um bocado de sorte ainda arranjamos um quarto elemento para jogarmos aqui umas suecadas.
JE: Pá, que sorte tive em te encontrar, não imaginas as saudades que tinha de jogar uma cartada, acompanhado de bons amigos e uma garrafinha de abafado do Alto Castelo, melhor que aquele zurrapa de moscatel que os meus colegas lavradores produzem lá com mosto das uvas do campo. Tchi, não há nada que chegue a um abafado de Fernão Pires lá do meu Alto Castelo, imagina que as uvas são tão doces que o meu adegueiro nem precisava de misturar aguardente para fazer o melhor licoroso do mundo!

ZP: Pois era, mas aqui no Céu é só tisanas de tília adoçadas com mel, a boca até me sabe a papéis de música, nunca mais saboreei os meus incontornáveis Scotch’s e mesmo o belo do charuto é só às escondidas, olhe doutor, aí vem o nosso bom e velho amigo Dr. Hermético Pachorra.
HP: Bons dias meus amigos, permitam-me que me sente?
JE: Tudo bem Hermético, mas deixa-te de mariquices e vem mas é aqui contar-nos as novidades do Reino.
HP: Estou à rasca dos meus ouvidinhos. O Tony Caminheta provocou uma autêntica enchente na noite de sexta-feira na Piagra e estava tudo cheio, para ver o homem estive lá ao lado do palco, perto lá das caixas do barulho e tenho a cabeça parece uma roca.
JE: Deixa-te de histórias, Caminhetas, Marcos Paulos, Emanueis e C.ª estamos nós fartos de ouvir na Rádio Pernos, quero mas é saber novidades do novo Arquivo Real.
HP: Perdão Doutor Ervas mas não estou autorizado a alongar-me muito nessa matéria, ainda anda tudo muito abafado.
JE: Mau, mau. Então eram para ser inaugurados em Junho, depois era no início do ano escolar e afinal ainda anda assim tudo tão abafado? Já sabemos que vai ter o teu nome e que vais ter mais um monumento da autoria do Picasso de Piarça, já me ficas a ganhar. Eu só tenho aquela aberração de cimento no Jardim, tu já tens um busto em bronze lá na Fundição e agora vais ter um monumento nos Arquivos Reais. Porra vais ser ser o maior óh Pachora. Tu e o Zeca Pinhoada passaram-me a perna com uma pintarola do caraças.
HP: Doutor, eu não tenho culpa, mas se as contas não falharem e o dinheiro não faltar, a coisa vai abrir no aniversário da república. E você esteja calado que antes de 2010, quando se comemorarem os 100 anos da implantação da República, vem aí uma enxurrada de dinheiro para o seu antigo Solar e finalmente o doutor vai ter um monumento à sua altura. O Centenário vai ser comemorado em Alpiarça, mas nessa altura o El-Rei Trevo-do-Mar já não será Rei, mas voltará a assumir a presidência da Fundição Ervas, por troca com o papá e terá ainda mais honras que o Rei dessa altura, que, ou eu me engano muito, ou já será mais vermelho que rosa, ou então um vermelho alaranjado...

Saturday, September 16, 2006

O CÉU PODE ESPERAR [1]

JE ( José Ervas) passeia no Céu quando avista ao longe o ZP (Zeca Pinhoada) e o chama.

JE: Meu bom amigo, ainda bem que te encontro por aqui durante o dia, ando há uns meses para falar contigo, mas às horas a que passeias já eu estou a dormir há horas.
ZP: De facto doutor, assim é, mas acabaram-se-me as cigarrilhas e tive de me levantar mais cedo e ir comprar tabaco, mas foi o destino que nos juntou porque também há bastante tempo que lhe queria dar uma palavrinha.
JE: Palavrinha? Por aquilo que tem vindo a acontecer lá em baixo em Piarça, teremos de ter é uma longuíssima conversa!
ZP: Como assim Doutor? Eu nada tenho a ver com o que se passa lá agora (exclamou amedrontado)!
JE: Muito bem, sentemo-nos por aí para falarmos, que a minha idade já não permite estar muito tempo de pé.
Tenho lido aqui em cima o Miradoiro e outros jornais locais e nacionais e estou a par do que se vai passando lá em baixo. Para além de ler ainda vou vendo alguma coisa, embora S. Pedro seja um bocado rígido, mas como S. Tomé também gosta de “ver para crer”, deixa-me dar umas espiadas de vez em quando.
ZP: Diga meu caro, fale que eu escuto-o com atenção e verei o que poderei fazer.
JE: Por minha infelicidade fiquei sem herdeiros e leguei em testamento todos os meus haveres ao Reino de Piarça, para que ali fosse construído um asilo para velhos e um lar para crianças desamparadas. Supus mal, que os rendimentos dos meus haveres, as dádivas dos mais ricos e outras ajudas dessem para manter o asilo e o lar. Durante anos vi dezenas de pessoas trabalharem desinteressadamente em prol desse meu sonho e vontade. Infelizmente por um lado e felizmente por outro, as coisas no mundo terreno mudam rapidamente. Tudo muda e nada fica estático, assim rezam os compêndios de História Universal, que eu bem conheço. Agora a casa onde morei está a ficar velha e a necessitar de obras urgentes, as minhas propriedades agrícolas pouco rendem ou quase nada. Tu acabaste por contribuir para que terceiros se aproveitassem à grande e à francesa da Fundição logo que o meu amigo Dr. Hermético Pachorra abandonou o cargo de Presidente da Fundição.
ZP: Doutor, desculpe, mas o seu testamento, pelo menos enquanto eu andei pela Terra foi sempre tido em conta.
JE: Zeca não ponho isso em causa, mas os meus herdeiros eram o Povo de Piarça e não apenas três pessoas que formam a Trilogia – Pai, Filho e Nora.
ZP: Dr. Ervas, receio que pouco possamos fazer e que nos próximos tempos as coisas mudem.
JE: Então e os velhos de Piarça, povo a quem nomeei meu herdeiro não pode usufruir do Asilo porquê? Porque toda a vida trabalharam e têm uma reforma miserável, ao contrário de outros que podem pagar mensalidades de hotel de duas estrelas? Eu sou republicano e entendo que se alguns de nós já nascemos em berços de ouro, devíamos contribuir para que os mais desfavorecidos pudessem gozar uma velhice com dignidade.
ZP: Doutor lembre-se que nós apenas somos almas. Se Deus e os santos pouco fazem por isso que podemos nós dois aqui em cima fazer, se nem com Deus conseguimos falar? Eu já tirei senha, mas estão alguns biliões de almas à nossa frente e apesar de Deus atender milhões por dia, ainda faltam uns meses para irmos à fala com Ele.
JE: Pá estás doente ou estás parvo? Achas que Deus não tem mais nada com que se preocupar? O que tiver de ser feito terei de ser eu e tu a fazê-lo e veremos se o Dr. Hermético Pachorra entra no nosso jogo, embora eu também tenha umas contas pendentes com ele.
ZP: Mas Doutor Ervas qual é a sua estratégia? Você está mesmo revoltado com o Reino.
JE: Espera, ainda mal comecei! Então mas quem és tu afinal para me roubares a minha Praça, para desprezares a minha Estátua e me deixares eternamente a mijar atrás do muro? Não achaste outro lugar digno para ter o teu nome, sem ser a Praceta José Ervas? Deves ter pedido ao teu amigo João Só Ares para disponibilizar ao seu amigo Trevo-do-Mar uns projectos de uns caixotes lá de Ulissipeia e como foste sempre solteirão arranjaste maneira de te deliciares com a bela vista de uma Boneca Nua lá por onde te passeias à noite, para baixo olhas à esquerda, para cima olhas à direita e durante o dia deves andar a babar-te lá à volta dela, agora até os pelos púbicos da boneca taparam com um papel, Zeca, não me digas que andas ciumento e tapaste as vergonhas à cachopa?
ZP: Doutor mas por quem me toma? Mas eu alguma vez concordei com aquela homenagem que me fizeram na Terra? Mas eu alguma vez pedi aquela Boneca Bacante, aquela Sarita dos Mamilos Espetados? Eu apenas me contentava com o nome de uma rua, como fizeram com outros democratas e anti-fascistas do Reino. Aquela Boneca era para ir para a Escola Superior de Bêbados, mas como bêbados os há e de Escola nada, era para ir publicitar o bar de alterne da Sra. Dª Rameira Kikas, ali para perto da Velha Praça, mas ela não caiu nas cantigas do Picasso do Reino, porque até as suas meninas andavam mais vestidas que aquela estatueta.
JE: Zeca e as catacumbas por baixo dessa tal Boneca Bacante? Aquilo é um parque de estacionamento ou uma floresta de pilares? Será para construir um Kartódromo Indoor? Ou El-Rei Trevo quer ter tudo preparado para se esconder da Guerra Atómica e fechar-se lá com os seus súbditos mais chegados?
ZP: Nunca entendi nem entenderei aquele El-Rei Trevo, o homem é de ideias muito à frente e cheira dinheiro a milhas.
JE: Mas eu tenho um Plano.
Zeca Pinhoada esfregando as mãos de contente, pede ansioso, conte doutor conte, que ando desertinho para ter umas aventuras, este tédio aqui no Céu mata-me.
JE:
Como O CÉU PODE ESPERAR, porque El-Rei Trevo quando morrer vai para as Labaredas do Inferno, e nunca conseguiremos pedir-lhe explicações, teremos de ser nós a ir lá abaixo pedir-lhe responsabilidades.
ZP: Doutor isso é impossível, não somos almas penadas estamos aqui no Céu, só as almas penadas é que andam pela terra a infernizar a vida aos terrestres.
JE: Zeca descansa, está tudo controlado e pelo tempo que cá estamos já temos direito a precárias e vamos utilizar as precárias para irmos à Terra, vamos aparecer ao Triunvirato lá do Reino de Piarça e pedir-lhes responsabilidades, mas antes disso vamos espetar-lhes uns valentes cagaços e infernizar-lhes a vida…

Friday, September 08, 2006

O LAGO DOS CISNES (2)

Decorre o mês de Agosto, El-Rei Trevo-do-Mar depois das suas merecidas férias (sabe-se lá em que local e à custa da plebe) , reúne toda a sua vassalagem, e, com todo o seu espírito que todos conhecem de malvadez disse:
Quando passo de e para a minha querida e elegante mansão, reparo que na área de comando da Galinha FRANCHETE, existem 2 galinheiros abandonados e em estado de degradação. Exijo de imediato que o fiscal do Reino vá inteirar-se do sucedido e que me relate ainda hoje o que conseguir apurar, para que EU possa decidir contra quem me faz frente no meu Reino e que eu tão bem comando como quero e me apetece, porque este galináceo ousa enfrentar-me e tira-me do sério.
No dia seguinte o Fiscal do Reino, deslocou-se ao local e fez o relatório, que de imediato fez chegar ao seu Senhor, não ousando ele fiscal, entregá-lo directamente, com medo do ralhete pelo atraso da entrega do respectivo relatório.
Consta o seguinte no relatório: são 2 galinheiros abandonados que estão na área de comando da Galinha Franchete, num terreno que pertence ao Reino e que de momento está vazio, mas põe em causa a beleza natural do local e dá uma má imagem aos milhares de turistas que visitam a zona.
SERÁ QUE SÃO ASSIM TANTOS MILHARES? O QUE VÃO VISITAR? O PARQUE DAS GALINHEIRAS NAO É! SERÁ QUE VISITAM O DÓ I SOL? SERÁ QUE EL-REI TREVO DO MAR SÓ TEM OLHOS PARA A GALINHA FRANCHETE? SERÁ UMA OBCESSÃO POR ELA? E AS 2 GALINHEIRAS? E OS ACESSOS DA ZONA? OS PASSEIOS? O MATO? AS ERVAS? OS BURACOS? ISTO NAO DARÁ UMA IMAGEM PIOR DA ZONA?
O que ELE (El-Rei) nao sabia era que os 2 galinheiros pertenciam a alguém que joga no time do seu Reino, um servo seu, e que foram retirados do local onde estavam precisamente para proceder à desinfecção da zona e também por dar uma imagem má à zona onde todos os galináceos co-habitam felizes e contentes, e, estes galinheiros foram colocados noutro local da área envolvente onde não se faz uso neste momento, também porque este servo deixou de pagar os devidos aéreos reais que devia pela utilização do local.
El-Rei depois de ler o relatório do Fiscal do Reino decidiu enviar um documento à Galinha Franchete exigindo a retirada imediata dos galinheiros do local sob pena de lhe colocar um processo de excussão coerciva.
Perante este documento real, a Galinha Franchete respondeu:
Os galinheiros não são meus, é o único local fechado onde podem estar e não me posso desfazer deles. Se no Reino de V. ALTEZA existir um local onde se possam colocar, estou disposta a discutir com V. Exa. o referido caso.
Até à presente data, nenhuma resposta por parte d' El-Rei nem de toda a Corte Real
E assim vai o nosso Reino em Piarça.